quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um debate que não interessa

Hoje, na blogosfera, todos falam do debate.

Há 2 anos:
BREAKING NEWS : Manuel Alegre garante reeleição de Cavaco Silva

Há 1 ano:
Manuel Alegre redux
Cavaco Silva acha que a verdade incomoda as eleições
Obviamente, demita-se.
Cavaco deve falar com alguém. Deve consultar o Conselho de Estado [ainda ignorava a companhia de Cavaco no Conselho de Estado]
Cavaco Silva é mentiroso, com mais de 33% de probabilidade

Há 6 meses:
Manuel Alegre, o auto-intitulado merecedor e vitima de perseguição


Para mim este debate é uma triste recordação da inexorável inevitabilidade das burrices políticas.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A lei é igual para todos?

Hoje, depois de tudo, ainda é sensato esperar que as leis servem para fazer justiça?

As leis têm um prazo de validade extremamente curto, o que em si mesmo é mau, mas temos pior, as leis e o enquadramento que as justificam podem ser relativizados e distorcidos por forma a obter uma lei que desdiz completamente o enquadramento anterior. Pior Ainda, muitas das leis são feitas à medida para encaixar nos restritos interesses de uma parte muito limitada e definida da sociedade, em prejuízo dessa mesma sociedade. Ainda Pior, a lei pode ser completamente ignorada fazendo aplicar soluções que não eram admitidas pela própria lei.

Em Portugal são os PIN, são a (não) nomeação dos controlos de segredos de estado, é a arbitrariedade com que se espia a vida de pessoas com escutas ilegais, é o banco que é nacionalizado com uma lei aprovada em 4 dias, é o financiamento dos partidos que é alterado dia-sim-dia-não, agora para pagar multas que são depois descontadas como despesas!!!
Lá fora são os raptos internacionais, é a tortura, é a corrosão complacente da independência judicial, são os aprisionamentos temporalmente indefinidos, é a comunização dos prejuízos.

Quantas mais aberrações é responsável tolerar? Será que é altura de colocar os portugueses a escolherem a sua linha na areia, o seu limite do aceitável?

Vivemos tempos assim tão mais iluminados e tão mais novos que os nossos antepassados?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Defensor Moura sobre a regionalização

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Liberalismo com copyright

A próxima tarefa é encontrar dentro da União Europeia soluções de combate à pirataria para aplicar em Portugal. Nilza de Sena quer que o "assunto deixe de estar num limbo de impunidade".
Nilza de Sena, vice-presidente do PSD, recebeu ontem à tarde a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) para uma reunião sobre pirataria, comprometendo-se em auxiliar a causa dos artistas.

LINK: PSD jura combate à pirataria, no CM.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Falso

adj.
1. Não verdadeiro; não verídico.
2. Fingido, simulado.
3. Enganoso; mentiroso.
4. Desleal, traidor.
5. Adulterado, falsificado.
6. Suposto, que não é o que diz verdade.
7. Pessoa falsa.
8. Esconderijo; vão dissimulado debaixo duma escada, dum móvel, etc.

adv.
9. Com falsidade; em falso.
em falso: errando o passo, a pancada, o movimento, etc.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Wikileaks: os lindos amanhãs que agora chegam não existem

Anda por aí muita gente a dizer que chegou uma nova era com fugas de informação em proporções até agora não conhecidas. É falso. Ou melhor, é uma conclusão errada. Muito errada. É feita por gente ligada aos media e a ONGs. Não é uma asserção de quem desenvolve tecnologia informática.

Este "fenómeno Wikileaks" é isolado ou de curto prazo. Como comparativo rápido, os senhores Jacinto Leite Capelo Rego e Hiro Kumata não vão voltar a fazer quaisquer donativo a quaisquer dos partidos políticos portugueses.

Uma das coisas que qualquer pessoa com formação em ciências aprende é que a soma de todas as entradas menos a soma de todas as saídas é igual àquilo que fica. É verdade que em informática é barato copiar, muito barato, mas isso só acontece porque os equipamentos assim o permitem (e quando um equipamento não permite liga-se-lhe um que consiga) - hoje é assim, mas não tem que ser. Os equipamentos podem ser desenhados para só passarem informação a equipamentos que não deixam copiar essa informação. Essa tecnologia existe hoje e está a ser usada e promovida, é a tecnologia DRM de gestão de direitos de autor - é uma tecnologia de controlo do acesso à informação (a parte da vigilância e repressão dos copiadores são outras ferramentas). A curto prazo a tecnologia tipo DRM vai ser adoptada pelas instituições que gerem informação com valor económico e político.

Não vai haver maior transparência por haver mais fugas e mais organizações tipo Wikileaks ou Openleaks. As fugas vão continuar a ocorrer mas vai ser o documento que foi scanado em casa ou o ecrã do computador que foi fotografado com o telemóvel pessoal.

A expectativa de maior transparência decorre apenas de que guardar segredos vai ser mais complexo, mais hierárquico e portanto mais rígido e mais caro. As organizações que dependem de segredos vão reorganizar-se para manter a flexibilidade e criatividade.

Para aqueles que esperam mais do que isto, aqueles que acham que o publicado pela Wikileaks justifica ir mais longe do que isto, não volta a haver outro caso comparável - not in your lifetime.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Wikileaks: para organizar ideias

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Os velhos e os jovens

Os cobardes andaram anos a votar no ladrão que também rouba um bocadinho para eles, hoje os jovens pagam com desemprego e dias de trabalho de 10 e 12 horas, amanhã vão pagar com mais ameaças, mais desemprego, pior saúde e piores reformas.
Depois pedem-lhes que saiam de casa e que tragam netos.

A cobardia e a estupidez humana não têm limites.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks: casos que justificam a publicação

Abafados pelos discursos de "faz de conta que os telegramas não têm informação importante" estão os casos que merecem um olhar atento e uma investigação aprofundada. Publicados 1300 telegramas de entre 250 mil, estes são os casos que justificam extensivamente a relevação dos telegramas que lhes estão associados.

Corrupção de democracias aliadas para esconder a verdade sobre as armas de destruição maciça no Iraque e sobre os casos de tortura americanos
É por demais revelador descobrir que os EUA promoveram a interferência do poder executivo sobre o poder judicial em democracias aliadas, como mostram o esforço e as tentativas repetidas dos EUA para varrer dos tribunais espanhóis e alemães casos contra soldados, políticos e agentes da CIA americanos conseguindo fechar a porta a acusações formais de de crimes de guerra e de tortura em Guantanamo.
Na Inglaterra o governo só prometeu proteger os interesses americanos no Inquérito Chilcot sobre a guerra do Iraque.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Wikileaks: falar antes de perceber

Nesta discussão sobre a publicação dos telegramas entendo que o conteúdo de muitos tem informação relevante, que devia ter sido passada aos eleitores. A troca de valores que justifica algumas das acções diplomáticas deve ser do conhecimento dos eleitores.
Ainda só foram publicados cerca de 1000 telegramas de 250000. Infelizmente muitos preferem discutir o mensageiro, por vezes de forma ignorante ou manipuladora, como:

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Isto cabe na definição de Fascismo

O caso dos telegramas americanos libertados pela Wikileaks está a revelar bem mais do que o conteúdo dos telegramas. Falo das escolhas e acções tomadas por uma série de grandes empresas. A participação voluntária de corporações (privadas) no exercício de censura e repressão em favor de um governo, num comportamento que cabe de forma declarada e óbvia na definição de fascismo. Falo da expulsão dos serviços de internet do site wikileaks.org por parte de empresas americanas ou que têm americanos como clientes.

A expulsão da Wikileaks da EveryDNS - tanto mais estranha porque a justificação técnica apontada não é razoável de ter acontecido.

O caso da Amazon, que invocou problemas de direitos de autor do conteúdo dos telegramas - recordo, esta é uma empresa que 15 dias atrás defendia a manutenção nas suas listas de vendas de um livro que era especificamente um manual de pedofilia - perceberam o que aconteceu aqui? A Amazon a defender um livro que promove e facilita a pedofilia como um caso de liberdade de expressão mas a classificar e expulsar a Wikileaks dos seus servidores por ser um caso de direitos de autor.

O caso da PayPal, empresa de serviços financeiros,subsidiária da empresa de leilões Ebay, que escolheu fechar a conta do cliente Wikileaks ao contrário de toda a história de protecção do secretismo individual da industria financeira.

Agora sabe-se também que a Twitter escolheu esconder das listas de tendências (que mostram as palavras mais twitadas) palavras como #wikileaks, #cablegate, #assange, etc.. Um caso de censura subliminar, escondida e completamente ao contrário da postura que foi adoptada pela Twitter quando da falhada revolução verde no Irão. A Twitter escolheu não apagar a conta da Wikileaks mas apenas impedir os seus utilizadores de conhecer e comparar a real proporção da reacção ao fecho do site Wikileaks por pirataria informática do governo norte-americano.

Estas são as empresas que dão nas vistas. A pergunta que fica é: que outras empresas e métodos poderão ser usados? Existirá alguma empresa de fornecimento de internet a limitar, atrasar ou impedir o acesso dos seus clientes a sites de informação relacionada com o caso? Qual é a postura de empresas como o Facebook ou Google? A que métodos sub-reptícios, a la twitter, poderemos estar sujeitos para condicionar a nossa opinião sobre este assunto? É legitimo que isso aconteça? De que forma é que isso poderia ser impedido?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Crise da dívida soberana: too small to matter

Estava há pouco num zapping e passei pela France 24 onde estava a falar Jean Michel Six, economista principal para a Europa da Standard & Poor's. Ficaram-me três notas.

No fundo um LCD passava imagens dos países envolvidos, via-se a bandeira de Portugal, Lisboa, o símbolo da CGD, e o economista, nada, em uma palavra sobre Portugal. Falou da Irlanda, da Grécia, passou para a Espanha e ainda falou da França. Foi preciso o entrevistador perguntar especificamente de Portugal, na resposta apenas uma preocupação, o governo ser minoritário, e um passo seguinte, o governo português tem que ir para a estrada, na Ásia, no mundo inteiro, e convencer os investidores e potenciais investidores (da dívida portuguesa) que os resultados estão a ser atingidos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Wikileaks: o mensageiro é o culpado

Wikileaks:o mensageiro é o culpado Depois de mais uma libertação de informação em escala histórica, é impressionante olhar os media, especialmente os anglo-saxónicos, a dedicar principalmente atenção ao mensageiro: querem saber quem é o fundador, de que é acusado, qual a credibilidade da organização, se tem intenções políticas, o que come ao pequeno almoço, se é legitimo divulgar aquele tipo de documentos - tudo, tudo para além do conteúdo, relativizar a substância. Nas outras vezes foi igual. É claro que são tudo questões legitimas, se usadas para aferir a fiabilidade da informação detalhada nos documentos, mas não, estão a ser usadas como se não houvesse nada de relevante nos documentos. A novidade, neste lote, é que afecta muitas elites em todo o mundo, elites que têm as suas próprias maquinas de propaganda. Só por isso, desta vez o impacto será maior.

Há quem ache que a CIA devia perseguir Assange como a Osama; quem diga que a Wikileaks devia ser considerada uma organização terrorista (uma organização terrorista!! A aterrorizar quem?) e, mais subtil, há quem sentencie que as leis actuais são insuficientes para estes actos de espionagem da era internet, dando como óbvio que é um acto de espionagem - em qual definição?

É claro que este acto tem consequências, especialmente, tem consequências directas na avaliação que se faz a algumas das crises de impacto internacional; consequências directas na forma em como mostra a interferência politicamente enviesada e antidemocrática e muitas vezes corrupta dos EUA em governos estrangeiros, como são exemplo casos na América Latina, em especial nas Honduras, onde apesar de saberem a legitimidade do governo de Zelaya se dedicaram a uma encenação em que faziam de conta que era discutível a constitucionalidade do golpe de estado.

Uma das grandes oportunidades desta informação é a de mostrar a dimensão da encenação que é feita ao nível da comunicação com os eleitores, tomados como meras marionetas individualmente dispensáveis, como mostram as negociações da Fatah e do Egipto com Israel acerca da tomada de Gaza pelas forças armadas Israelitas.

Na larga maioria, é informação conhecida e já havia sido destacada por várias pessoas e organizações - essas pessoas e organizações merecem crédito, e necessitam ser ouvidas na tomada de decisões. Não surpreende que aqueles que lá estão achem que não há outra forma de fazer diplomacia e de (não) prestar contas aos eleitores - nunca fizeram de outra maneira. Mas é necessário dar crédito a quem tem crédito e ouvi-los nas alturas certas e não a posteriori. É necessário defende-los da maior agressividade que os instalados vão pôr em relativizar os créditos merecidos.

 

LINK: Como sempre, Glenn Greenwald tão eloquente quanto conciso [em inglês].