domingo, 27 de setembro de 2009

Cavaco Silva acha que a verdade incomoda as eleições

Na campanha para estas eleições legislativas utilizaram-se métodos que se hoje acabarem premiados irão vulgarizar-se e tornar-se a moeda de troca entre todas as forças políticas, o que é lamentável e negativo.

Foram lançadas suspeitas sobre o (ainda) Primeiro-ministro de Portugal e sobre os serviços de informação da República, serviços que têm um responsável máximo e que são fiscalizados por uma comissão própria, todos nomeados por maioria de 2/3 na Assembleia da República. Esta suspeita sobre os serviços secretos portugueses foi inclusive noticia em Inglaterra.

Não será demais dizer que a troca de informações entre serviços secretos é essencial na actualidade do combate ao terrorismo e na qualidade da informação recolhida; também não me parece demais dizer que essa troca de informações se baseia numa relação que depende finamente da percepção de credibilidade e de uso ético das informações trocadas; isto faz das suspeitas lançadas, sobre os serviços secretos, tão ou mais graves que as já graves suspeitas sobre o Primeiro-ministro em funções.

Os factos confirmados e as informações nunca desmentidas limitam fortemente as narrativas possíveis para estes acontecimentos. Na falta de uma explicação cabal mas necessariamente mirabolante, imagino vários cenários e não encontro um que não resulte na constatação do mau serviço que Cavaco Silva está a prestar aos portugueses e a Portugal.

No meio de todas estas implicações e sob forte suspeita de o fazer em prejuízo da integridade da eleição, Cavaco Silva limitou-se a esconder-se sob o surreal desejo de não interferência e de imparcialidade.

As acções e omissões de Cavaco Silva influenciaram o conteúdo da campanha e o resultado destas eleições. Os actos de Cavaco Silva puseram em causa serviços fundamentais do estado. A participação de Cavaco Silva jogou em causa uma instituição fundamental da nossa democracia. À revelia das necessárias considerações de justiça que obrigam quaisquer órgão de soberania, foi posta em causa a honorabilidade do Primeiro-ministro de Portugal. E, foram recolhidas informações, de forma sistematizada, sobre um cidadão português, o que põe em causa princípios fundamentais da constituição portuguesa.

Quaisquer um destes efeitos é por si só grave, mesmo quando não são invocados por uma instituição da República. São-no ainda mais incorrectos quando causados pelas acções e omissões daquele órgão de soberania que é responsável pelo normal funcionamento das instituições democráticas.

Por estas razões Cavaco Silva descartou a legitimidade que tinha enquanto Presidente da República. Por ser uma parte excessivamente interesseira, Cavaco não tem legitimidade para nomear o próximo governo do País. Cavaco não mostrou isenção suficiente para assegurar o bom funcionamento das instituições democráticas, nem para exercer o poder de veto relativamente ao aprovado pela Assembleia da República e pelo Governo. Cavaco mostrou não respeitar os eleitores e mostrou considerar que estes não sabem lidar com a verdade. Portugal é uma república democrática. Obviamente demita-se.

3 comentários:

commonsense disse...

Cavaco foi, talvez, o maior perdedor destas eleições. E isso é mau porque, neste conjuntura, pode ser necessário um presidente que tenha o respeito e a confiança dos portugueses.

Francisco disse...

O cavaquismo é com certeza o maior perdedor. Cavaco, ainda está para ser visto se vai perder mais que o PSD.
Fico contente por constatar que há direita moderada que reprova a forma tomada por este último PSD - veremos se é por boas razões ou se apenas por sac(sant)anisses.

João Manuel Vicente disse...

Concordo consigo. Este Presidente, que está já em gestão corrente como diz de algum modo "O Jumento", tem de ir. E não deixa saudade.

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