Na campanha para estas eleições legislativas utilizaram-se métodos que se hoje acabarem premiados irão vulgarizar-se e tornar-se a moeda de troca entre todas as forças políticas, o que é lamentável e negativo.
Foram lançadas suspeitas sobre o (ainda) Primeiro-ministro de Portugal e sobre os serviços de informação da República, serviços que têm um responsável máximo e que são fiscalizados por uma comissão própria, todos nomeados por maioria de 2/3 na Assembleia da República. Esta suspeita sobre os serviços secretos portugueses foi inclusive noticia em Inglaterra.
Não será demais dizer que a troca de informações entre serviços secretos é essencial na actualidade do combate ao terrorismo e na qualidade da informação recolhida; também não me parece demais dizer que essa troca de informações se baseia numa relação que depende finamente da percepção de credibilidade e de uso ético das informações trocadas; isto faz das suspeitas lançadas, sobre os serviços secretos, tão ou mais graves que as já graves suspeitas sobre o Primeiro-ministro em funções.
Os factos confirmados e as informações nunca desmentidas limitam fortemente as narrativas possíveis para estes acontecimentos. Na falta de uma explicação cabal mas necessariamente mirabolante, imagino vários cenários e não encontro um que não resulte na constatação do mau serviço que Cavaco Silva está a prestar aos portugueses e a Portugal.
No meio de todas estas implicações e sob forte suspeita de o fazer em prejuízo da integridade da eleição, Cavaco Silva limitou-se a esconder-se sob o surreal desejo de não interferência e de imparcialidade.
As acções e omissões de Cavaco Silva influenciaram o conteúdo da campanha e o resultado destas eleições. Os actos de Cavaco Silva puseram em causa serviços fundamentais do estado. A participação de Cavaco Silva jogou em causa uma instituição fundamental da nossa democracia. À revelia das necessárias considerações de justiça que obrigam quaisquer órgão de soberania, foi posta em causa a honorabilidade do Primeiro-ministro de Portugal. E, foram recolhidas informações, de forma sistematizada, sobre um cidadão português, o que põe em causa princípios fundamentais da constituição portuguesa.
Quaisquer um destes efeitos é por si só grave, mesmo quando não são invocados por uma instituição da República. São-no ainda mais incorrectos quando causados pelas acções e omissões daquele órgão de soberania que é responsável pelo normal funcionamento das instituições democráticas.
Por estas razões Cavaco Silva descartou a legitimidade que tinha enquanto Presidente da República. Por ser uma parte excessivamente interesseira, Cavaco não tem legitimidade para nomear o próximo governo do País. Cavaco não mostrou isenção suficiente para assegurar o bom funcionamento das instituições democráticas, nem para exercer o poder de veto relativamente ao aprovado pela Assembleia da República e pelo Governo. Cavaco mostrou não respeitar os eleitores e mostrou considerar que estes não sabem lidar com a verdade. Portugal é uma república democrática. Obviamente demita-se.
3 comentários:
Cavaco foi, talvez, o maior perdedor destas eleições. E isso é mau porque, neste conjuntura, pode ser necessário um presidente que tenha o respeito e a confiança dos portugueses.
O cavaquismo é com certeza o maior perdedor. Cavaco, ainda está para ser visto se vai perder mais que o PSD.
Fico contente por constatar que há direita moderada que reprova a forma tomada por este último PSD - veremos se é por boas razões ou se apenas por sac(sant)anisses.
Concordo consigo. Este Presidente, que está já em gestão corrente como diz de algum modo "O Jumento", tem de ir. E não deixa saudade.
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