Depois de mais uma libertação de informação em escala histórica, é impressionante olhar os media, especialmente os anglo-saxónicos, a dedicar principalmente atenção ao mensageiro: querem saber quem é o fundador, de que é acusado, qual a credibilidade da organização, se tem intenções políticas, o que come ao pequeno almoço, se é legitimo divulgar aquele tipo de documentos - tudo, tudo para além do conteúdo, relativizar a substância. Nas outras vezes foi igual. É claro que são tudo questões legitimas, se usadas para aferir a fiabilidade da informação detalhada nos documentos, mas não, estão a ser usadas como se não houvesse nada de relevante nos documentos. A novidade, neste lote, é que afecta muitas elites em todo o mundo, elites que têm as suas próprias maquinas de propaganda. Só por isso, desta vez o impacto será maior.
Há quem ache que a CIA devia perseguir Assange como a Osama; quem diga que a Wikileaks devia ser considerada uma organização terrorista (uma organização terrorista!! A aterrorizar quem?) e, mais subtil, há quem sentencie que as leis actuais são insuficientes para estes actos de espionagem da era internet, dando como óbvio que é um acto de espionagem - em qual definição?
É claro que este acto tem consequências, especialmente, tem consequências directas na avaliação que se faz a algumas das crises de impacto internacional; consequências directas na forma em como mostra a interferência politicamente enviesada e antidemocrática e muitas vezes corrupta dos EUA em governos estrangeiros, como são exemplo casos na América Latina, em especial nas Honduras, onde apesar de saberem a legitimidade do governo de Zelaya se dedicaram a uma encenação em que faziam de conta que era discutível a constitucionalidade do golpe de estado.
Uma das grandes oportunidades desta informação é a de mostrar a dimensão da encenação que é feita ao nível da comunicação com os eleitores, tomados como meras marionetas individualmente dispensáveis, como mostram as negociações da Fatah e do Egipto com Israel acerca da tomada de Gaza pelas forças armadas Israelitas.
Na larga maioria, é informação conhecida e já havia sido destacada por várias pessoas e organizações - essas pessoas e organizações merecem crédito, e necessitam ser ouvidas na tomada de decisões. Não surpreende que aqueles que lá estão achem que não há outra forma de fazer diplomacia e de (não) prestar contas aos eleitores - nunca fizeram de outra maneira. Mas é necessário dar crédito a quem tem crédito e ouvi-los nas alturas certas e não a posteriori. É necessário defende-los da maior agressividade que os instalados vão pôr em relativizar os créditos merecidos.
LINK: Como sempre, Glenn Greenwald tão eloquente quanto conciso [em inglês].
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