O deslize ético do PSD vem da convivência com a corrupção nos dinheiros vindos da Europa, no 2o mandato de Cavaco Silva.
Numa lógica limitada até posso aceitar que a via do «comem todos» em vez de «haver moralidade» fosse uma das formas mais eficientes e menos trabalhosas de garantir e maximizar a entrada dos fundos comunitários no País. Mas já na altura essa era uma visão muito limitada e excessivamente unidimensional. A mesma bondade não pode ser aplicada quanto à forma conseguida (na altura) para lidar com as falências fraudulentas. Milhares de portugueses foram roubados por esses esquemas de falências. Com estas políticas estabeleceu-se, cultivou-se, seleccionou-se e propagou-se todo um tecido empresarial detentor de dinheiro e poder cujo core-business é a corrupção, o compadrio, a mentira e a fraude.
Findo o 2o mandato de Cavaco Silva a ética no PSD tomou duas evoluções. Na maioria o conceito estabilizou, por ser de importância considerada óbvia; nalgumas elites o deboche continuou, com a conivência do PS-Guterres.
A meados do 2o mandato de Guterres, Marcelo Rebelo de Sousa resolveu desafiar os valores dos militantes regionalistas para induzir uma derrota a Guterres - a dissonância é instalada, a ética torna-se um valor menos óbvio. Tudo pode ser manipulado até os referendos e as grandes escolhas do país.
O golpe fatal na ética foi dado com a necessidade de colocar o PSD a defender o execrável, para benefício do país através da manutenção do partido no governo.
Quando Durão Barroso se colocou numa posição política que obrigava o PSD a defender a tortura de seres humanos - pessoas, eticamente presumidas inocentes; foi posto em causa todo um sistema de valores que sustentava a ética. É esta contorção lógica que relativiza a ética como valor fundamental. O valor da ética dentro do PSD passou a ser menorizado por uma maioria de militantes.
Não é por acaso que nos últimos anos assistimos ao aparecimento de vários novos partidos na ala direita da política portuguesa.
Nos últimos 2 anos foram aprovados 4 novos partidos pelo tribunal constitucional; 3 são de direita.
2 comentários:
Sim, interessante reflexão.
Eu sou fundador do PSD e lá continuo, um pouco por inércia e também para não fazer o favor a esses que comem tudo e não deixam nada e que bem gostariam de me ver pelas costas. A esses, chamo-lhes o PSDinheiro. Em vez de defenderem a sociedade civil, defendem a sociedade comercial, a deles naturalmente, e dos patrões deles.Começaram por ser «loureiristas», depois «barrosistas» e agora «manuelistas».
Só uma pequena correcção: os mafiosos no PSD não são uma maioria dos aprox. 70 mil membros, mas são uma maioria esmagadora dos dirigentes. Os desta direcção actual então são mesmo quase todos.
Esta correcção não desvaloriza do que está no post; acho que, no fundamental, estamos de acordo.
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