Este gráfico mostra a distribuição de salários nos sectores privado e público (em Portugal). As linhas verticais representam os salários médios.
Em 2005, quando o salário médio no sector privado não chegava aos 850eur, o salário médio de um emprego público era de 1500eur.
Com pouca sabedoria de história se pode recordar os antigos sonhos de fazer de Angola e Moçambique uma só colónia. Era o chamado mapa cor-de-rosa, pensado no séc. XIX, defendido internacionalmente com base num direito histórico. Como é sabido, Portugal acabou por ver esses planos esfumarem-se tão só porque não teve capacidade de ocupar e defender esse território. Uma questão directa de exercício da soberania relativamente aos restantes soberanos.
Hoje Portugal vive uma situação com algumas semelhanças. Por isso é ainda mais ridículo que tenhamos chegado a esta situação orçamental em parte porque compramos os submarinos, para ter capacidade de exercer a nossa soberania, que agora vamos descartar porque não somos capazes de acordar um orçamento.
Só para não deixar ninguém perdido, a situação semelhante é o processo de alargamento da plataforma continental.
Em Abril de 1500 Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil no que constituiu um dos maiores feitos dos descobrimentos portugueses. Foi uma das muitas façanhas que definiram um povo. Um período de ouro. Ouro, pimenta, glória, Goa, Macau e até o tratado de Tordesilhas. Mas não foi tudo rosas, também houve vítimas, também houve quem sofresse: os náufragos, os escravos, epidemias e toda uma manifestação de pobres que não sabiam que eram pobres.
Passados 5 séculos, 500 anos, Portugal entra noutra fase de descobrimentos. Sim, também há descobrimentos no fundo do barril. Novas vítimas. Novos quinhentistas. Não estou a falar dos que recebem menos de 500eur, esses não são novidade, não são descoberta. Basta abrir os jornais, ver os noticiários ou ouvir a TSF, até a RR. São as professoras solteiras e lisboetas que foram colocadas no Porto e vão descontar mais 270eur/ano em IRS. É o médico que diz que também tem casas para pagar. São juízes a ser roubados. É até um deputado que quase não tem dinheiro para comer. Sim, porque 5% de 1500eur é muito dinheiro, muito mais que tirar 5% a quem ganha 500. E aos que toca 10%, vão-lhes tirar mais do que alguns têm para viver.
Uma bela obra da Joana Vasconcelos. Espero que lhe tenham pago uma quantia obscena, só para a chapada ser maior.
Pena não conseguir vê-la "ao vivo" - só vai estar na praça do comércio (em Lisboa) até 4 de Novembro.
Há poucas obras de Joana Vasconcelos que me deixam indiferente. Algumas são bem poderosas. Diverte-me este lado populista, azeiteiro até. Esta é das divertidas, vou junta-la com a Branca de Neve do João César Monteiro. Qualquer dia peço-lhe p'ra m'assinar um garrafão.
Pouco depois de ter a carta de condução, ainda no período experimental, tive um dia de trabalho difícil com mais de 1400km, em 18h, com muito poucas pausas. À 1 da manhã estava na VCI a querer ir para a A3, enganei-me na saída e fui virado às Antas. Em pânico, carta de 3 meses, sem conhecer nada daquelas andanças virei numa direita e logo numa à esquerda - o meu plano era estatístico: 1 direita mais 3 esquerdas e estou no ponto de partida. Estava na primeira esquerda quando saía para a estrada, de marcha-a-trás, um Fiat Tempra, da PSP. Parei, resignado - os polícias também - aí olhei para a estrada, todos os faróis apontavam para mim.
Hoje, agora, acho que devia ter encarado aquilo de outra forma. Foi uma oportunidade de tirar a carta bem tirada.
Nunca cheguei a agradecer à PSP da esquadra das Antas.
Hoje vinha uma notícia interessante no Público, com informação útil e concreta (!!!). Pena fazer por adicionar ao mito dos 15 anos. Fiquei a saber que os trabalhadores independentes, agrícolas, industriais, comerciantes, donos de prédios, de capitais e mais-valias pagam 8% do dinheiro colectado pelo IRS, o resto do dinheiro é pago pelos assalariados e pensionistas. Repita comigo devagarinho, mais de 9 em cada 10 euros do IRS é pago apenas pelos assalariados e pensionistas. Mais de 9 em cada 10 euros. O artigo avança em mais tópicos, vale a pena ler.
Outras duas leituras interessantes são posts dos Ladrões de Bicicletas: A verdade e manipulação sobre tributação das empresas (I) e (II). Fica-se a perceber melhor porque é o IRC tem a irrelevância que tem e porque existem tantas empresas que não dão lucros.
Para se regular qualquer coisa há dois tipos de reguladores indesejáveis, os que são demasiado conservadores e os que pretendem saber antecipar tudo reagindo com excesso. Especialmente com calibrações finas e em sistemas complexos.
O orçamento vai à Assembleia no fim do mês. Votado a 29. Faltam 18 dias. Não é possível manter os níveis actuais de tensão no mesmo espaço de debate. Não estou a falar do desejável, é mais simples que isso: não é fisicamente possível.
Sócrates tem, pode-se apostar, mais um ou dois coelhos cinzentos para atirar à conversa, Passos está na vitrina, suponho que goste. Há muitas narrativas e a blogosfera é pródiga em cenários e justificações. Chumba, não chumba, vem de azul, amarelo ou sarapintado de cinzento - tudo pode acontecer, até porque, se há coisa que a história nos prova todos os dias é que há gente estúpida para tudo.
Não estou lá, não conheço os ins-n-outs que rodeiam os votantes mas, daqui, o cenário que me parece agora mais provável é o orçamento vir a ser aprovado com as abstenções de uma parte do PSD. São 37 abstenções ou 19 votos a favor.
LINK: Resultados eleitorais e lista de deputados da Assembleia d República.
Se querem ver um exemplo cabal do que é um exercício de pura manipulação mascarada de jornalismo é ir ver o artigo de primeira página, no JN, descaradamente titulado com Quem ganha menos vai fazer mais descontos. É uma obra de ficção baseada em factos reais. Um aproveitamento tortuoso de factos descontextualizados para criar um título e uma narrativa às custas da ignorância de matemática da larga maioria dos portugueses.
Está assinado com Lucília Tiago. Se tem carteira de jornalista, provou assim que não a devia ter. Quem escreveu este artigo devia estar a escrever na secção de ficção, quando muito na de opinião.
Este tipo de exercício, de política mascarada de jornalismo, é um cancro, o principal dos que estão a contribuir largamente para o fim do debate político (que obviamente só existe se racional e ponderado), a contribuir para o fim da capacidade de encontrar e negociar soluções para o país e para os portugueses, na base a corromper toda a democracia.
PS: Se a isto juntarmos (no mesmo dia) coisas como Supremo iliba procurador que tinha "sexo grátis" é fácil concluir que o apelo às armas está cada vez mais próximo e seduz cada vez mais portugueses.