Lodosos, obscuros, de irresponsabilidade colectiva, difusa, escondida, são os casos doentios que sugam a esperança de vermos uma melhoria sensível, que valha a espera.
Interessa, claro, discutir a relevância de cada um deles - os que escolho, aliás, são-no pela capa viscosa que encobre as suas causas e motivações - algumas delas possivelmente legítimas - mas a grande questão que me põem é se estamos numa sociedade em velocidade cruzeiro de evolução ou se pelo contrário mostram doença e instabilidade que nos coloca numa trajectória para o abismo. À consideração:
- a reacção e a condenação do polícia que deu um tiro na cabeça a um suspeito enquanto o interrogava na esquadra de Matosinhos
- a ausência de responsáveis pelo desastre da queda da ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-rios
- a eleição de autarcas acusados e condenados por práticas ilícitas num esquema colectivo de «rouba todos os portugueses mas faz obra para nós»
- a criação e entrega a uma empresa privada de um monopólio para as travessias rodoviárias sobre o Tejo; com a sequente contratação do ministro responsável para administrador da empresa quando saiu do governo
- a nomeação para relator de uma comissão parlamentar sobre branqueamento de capitais de um deputado acusado de corrupção baseado em fortes indícios criminais
- despesas desregradas e fraudulentas no Supremo Tribunal de Justiça
- a pena aplicada à tentativa de suborno a Sá Fernandes: tentado corromper com 200'000 EUR, a pena do corruptor foi de 5'000 EUR
Às portas ficam ainda:
- A mais que provável ausência de responsáveis no caso dos seis pacientes que ficaram cegos, no Hospital Santa Maria
- Trás-os-montes a região mais pobre da Europa quando comparada com todas as regiões da Europa dividida em dimensões semelhantes
- os aumentos e regalias vitalícias dos deputados e políticos em causa própria
- um presidente da república que conspira para denegrir o primeiro-ministro às custas da credibilidade de serviços do estado e às custas de direitos constitucionais
Que outros casos faltam aqui?
Há forma de dar volta a isto?
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