segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ai e tal, o céu vai cair-nos em cima da cabeça porque o comércio vai poder taxar pagamentos com cartão

É curioso ler os comentários à liberalização da cobrança de uma taxa de utilização nos pagamentos de compras com cartão, fico com a sensação que os portugueses querem mesmo ser governados como se vivessem num terrário de formigas.

Num dos primeiros posts que fixei neste blog, em Junho de 2008, escrevi Ai e tal, as gasolineiras querem cobrar uma taxa pelos pagamentos com cartão, onde defendi a existência dessas sobre-taxas.

A inexistência dessas taxas cria uma dinâmica onde é estimulada a utilização de cartões de pagamento, em grande benefício dos bancos, através de umas migalhas para os utilizadores e maioritariamente às custas dos clientes que não pagam com cartão - no que configura um imposto escondido em benefício dos bancos - como se ainda existissem poucos!

Espero bem que esta medida vá em frente e que os portugueses aprendam a exigir os benefícios nas alturas justas - nas portagens e nas gasolineiras quando usam sistemas automáticos e de self-service e nos bancos porque não usam um trabalhador especializado quando evitam o balcão.

4 comentários:

Unknown disse...

Eu compreendo o teu argumento, mas a verdade é que isto parece um disparate — desde logo, porque nenhum comerciante vai baixar os preços que se encontravam ligeiramente mais altos para compensar as vendas efectuadas com pagamento electrónico.

Além do mais, apesar de nunca ter dedicado muito tempo a reflectir sobre o assunto, eu sou um apologista do fim do dinheiro físico (vulgo "cash"). Tirando alguns casos muito específicos, ao nível da rapidez da transacção (e mesmo esses poucos estão prestes a ser reduzidos, graças ao RFID), não há vantagem nenhuma na sua existência.

Por outro lado, os pagamentos electrónicos evitam as complicações dos trocos, permitem andar com uma carteira mais leve e evitar planeamentos prévios — nem sempre possíveis — do dinheiro que se tem de levantar, não há a chatice de se ser um jackpot ambulante para qualquer ladrão (ou uma perda tão grande no caso de se perder a carteira), e ainda se dá um contributo para o controlo fiscal...

Francisco disse...

Caríssimo,
é verdade que é mais uma desculpa para um aumento de preços.
Agrada-me haver escolha. Passa a não ser obrigatório esconder os custos da transacção. Quem quer usar o cartão pode escolher as lojas sem taxa; quem não usar pode escolher as lojas com taxa.
Aumenta a pressão sobre os bancos. Eram 4% agora andam pelos 1-2%. Quando um governo aumenta o IVA 0.5% é um escabeche. Os bancos cobram 1 a 4% pela transacção e não se passa nada. E porque raio é custeada em percentagem? O custo da transacção é fixo.
Não queres pensar em levantar dinheiro, paga! Os ladrões também são gente.
abraço

Unknown disse...

Posso ter percebido mal o teu argumento, mas, tendo em vista esse problema, parece-me que seria melhor solução legislar as taxas bancárias em vez de permitir uma taxação compensatória ao consumidor final...

Francisco disse...

Não sei se te dê uma explicação, se apenas te chame comunista.
Chamas-lhe "taxação compensatória", eu vejo o comprador como o utilizador do serviço de pagamento, no dia-a-dia quem escolhe usar o cartão ou não é o dono do cartão.
A questão de legislar o valor que vai ser cobrado (por um serviço privado) só se deve admitir acontecer em condições especialíssimas, o normal é decidir pela oferta e procura, idealmente numa situação em que os procurantes têm acesso à mesma informação que os ofertantes.
É claro que a legislação influencia esse equilíbrio - por vezes fortemente; para algumas pessoas isso é uma calamidade, uma ofensa, um roubo, para outras seria a forma ideal de resolver as disputas de preço..
Neste caso, a legislação que vai ser substituída tornava todos os compradores, colectivamente, num cliente desinformado do serviço dos bancos, os comerciantes tinham/têm um papel instrumental e pouco mais que passivo, porque os interesses dos comerciantes são diferentes dos interesses dos clientes.
A nova legislação abre a possibilidade do utilizador-pagador e permite que o utilizador conheça e decida sobre o serviço que vai usar.
Se calhar pelo "comunista" tinha chegado?

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