domingo, 21 de fevereiro de 2010

O desastre madeirense

A pergunta que gostava de ver procurada pelos jornalistas é se esta tragédia na Madeira era previsível, ou melhor, qual era a probabilidade de acontecerem estes valores de precipitação. Uma vez cada 300 anos? Uma vez cada 40? Uma vez a cada 10 anos? Quem eram os "maluquinhos", os "cromos", que disseram que isto podia acontecer? Quando disseram? Fazia sentido o que disseram?

Deixo esta perguntas para sabermos honrar os que foram levados pela tragédia; para sabermos cuidar dos que ficaram; e também, para não nos deixarmos cair, uma e outra vez, no ciclo comum de deixar reinar os imprudentes. Aqueles que depois de acontecerem as coisas se encontram num poleiro alto que chegue para dizerem que "o tempo é mesmo assim", "ninguém podia ter previsto isto".

Neste tipo de desastres, é comum os responsáveis usarem do seu tempo de antena para dizerem que ninguém podia ter previsto - pois claro que ninguém, de entre aqueles com que se rodearam, previu isto - a pergunta é se deviam ter-se rodeado de outras pessoas. É comum menorizarem os que tiveram razão antes de acontecer. Foi assim em L'Aquila , foi assim com o Katrina, está a ser assim com a calamidade económica de que estamos a ressacar, como assim o foi em Entre-os-rios, com a ponte Hintze Ribeiro.

Recordo, com a queda da Hintze Ribeiro foram levadas 59 pessoas. Na altura disseram-nos uma treta, que "foram as maiores cheias de há 40 anos" - infelizmente a maioria dos portugueses não tem que saber que uma ponte é projectada para durar centenas de anos, o projecto daquela ponte tinha que prever cheias daquelas proporções, ou com reforço estrutural ou prevendo a existência de manutenção. Infelizmente os mesmo que foram irresponsáveis para deixar a ponte cair, foram os que tiveram oportunidade de ocupar o tempo de antena e distorcer e diluir as responsabilidades pelos inúmeros conselhos decisores que desaguam na responsabilidade politica dos votos.

É bom que sejamos capazes de louvar os competentes que fizeram o que deviam e principalmente identificar os incompetentes para que, pelo menos, não tenham oportunidade de abusar do tempo de antena, espalhando teorias meio cozinhadas para abafar aqueles que atempadamente falaram.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Navalha de Ockham

"Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor"
— William de Ockham

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Manipular o estado para aumentar lucros

O mercado tem disto, é legítimo mas é também um apontar de energias e recursos num sentido autofágico. Um mal a que os portugueses dão pouca atenção.

Ontem, encontravam-se em vários jornais notícias sobre a acessibilidade a produtos necessários ao fabrico de explosivos. "Mercado de explosivos com falhas no controlo", JN, "Comprar explosivos não é fácil, mas é possível", i,... lida a notícia, lá se encontra que a fonte de tais preocupações (de segurança!) é a Associação Nacional de Empresas de Produtos Explosivos. Que coincidência, precisamente aqueles que têm mais a lucrar com o aumento das burocracias para se entrar nesse mercado.

A ANEPE está preocupada com os produtos químicos, a ANESA com a qualidade dos serviços das empresas de consultoria em segurança alimentar, a APE ficou tão preocupada com a qualidade do exercício profissional da enologia que conseguiu fazer aprovar a Lei 59/2009, que regula o estatuto profissional dos enólogos - que interesse público Srs deputados!! Para quando virá uma ordem profissional? - Em Bruxelas preocupam-se com a partilha de música e com o tamanho dos pepinos. Da América preocupam-se com a segurança dos nossos aeroportos e até com as nossas transferências bancárias. Aqui, ainda levamos mais com os galheteiros.

Nunca na história se viu tanta gente tão preocupada com a segurança dos outros.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Á espera de uma narrativa

O limbo. O PS não-operacional entrou no limbo. Espera uma narrativa. Uma historieta que faça sentido causal. Suspeito que não vai aparecer. Vai deixar-se o silêncio creditar no alarido dos casos fantasma. Se não falar, não se compromete - não fecha portas - ficam mais escolhas.

Mas... o compromisso, o assumir o óbvio e as decisões que fecham portas, são a maior fonte de crédito. O silêncio não faz sentido. Tem que deitar corda cá para fora: se estiver limpa não faz mal, engorda, se for espalhada sem arrumo acabará por servir também para alguma coisa.

O síndroma de Estocolmo está descrito e é bem conhecido - não vale a pena ficar refém. A exigência tem que ser cultivada, podada, regada e mantida, em todos os ramos, todos e muitos dias.