A pergunta que gostava de ver procurada pelos jornalistas é se esta tragédia na Madeira era previsível, ou melhor, qual era a probabilidade de acontecerem estes valores de precipitação. Uma vez cada 300 anos? Uma vez cada 40? Uma vez a cada 10 anos? Quem eram os "maluquinhos", os "cromos", que disseram que isto podia acontecer? Quando disseram? Fazia sentido o que disseram?
Deixo esta perguntas para sabermos honrar os que foram levados pela tragédia; para sabermos cuidar dos que ficaram; e também, para não nos deixarmos cair, uma e outra vez, no ciclo comum de deixar reinar os imprudentes. Aqueles que depois de acontecerem as coisas se encontram num poleiro alto que chegue para dizerem que "o tempo é mesmo assim", "ninguém podia ter previsto isto".
Neste tipo de desastres, é comum os responsáveis usarem do seu tempo de antena para dizerem que ninguém podia ter previsto - pois claro que ninguém, de entre aqueles com que se rodearam, previu isto - a pergunta é se deviam ter-se rodeado de outras pessoas. É comum menorizarem os que tiveram razão antes de acontecer. Foi assim em L'Aquila , foi assim com o Katrina, está a ser assim com a calamidade económica de que estamos a ressacar, como assim o foi em Entre-os-rios, com a ponte Hintze Ribeiro.
Recordo, com a queda da Hintze Ribeiro foram levadas 59 pessoas. Na altura disseram-nos uma treta, que "foram as maiores cheias de há 40 anos" - infelizmente a maioria dos portugueses não tem que saber que uma ponte é projectada para durar centenas de anos, o projecto daquela ponte tinha que prever cheias daquelas proporções, ou com reforço estrutural ou prevendo a existência de manutenção. Infelizmente os mesmo que foram irresponsáveis para deixar a ponte cair, foram os que tiveram oportunidade de ocupar o tempo de antena e distorcer e diluir as responsabilidades pelos inúmeros conselhos decisores que desaguam na responsabilidade politica dos votos.
É bom que sejamos capazes de louvar os competentes que fizeram o que deviam e principalmente identificar os incompetentes para que, pelo menos, não tenham oportunidade de abusar do tempo de antena, espalhando teorias meio cozinhadas para abafar aqueles que atempadamente falaram.